O
cenário atual da igreja evangélica no Brasil é profundamente desoladora, pois
sua aparente pujança numérica não é proporcional ao conteúdo do evangelho
compreendido, encarnado e praticado, mas num conjunto de crenças, superstições,
desvios doutrinários, achismos teológicos, e um monte de coisas feitas e ditas
em nome de Deus que ajuda mais a desevangelizar que fazer as pessoas chegarem
ao pleno conhecimento da Palavra.
As
pessoas são bombardeadas o tempo todo com o não-evangelho, pregado por pessoas
que dizem carregar a revelação, mas são vitimas na verdade de seus próprios
preconceitos, e portanto pregam uma caricatura de Jesus, não o Jesus da cruz,
do calvário, ressurreto... Mas o Jesus estereotipado, bairrístico,
preconceituoso, intolerante, agressivo, mesquinho. Um Jesus que mais se parece
com o pregador do que o contrário. Um Jesus incapaz de abençoar alguém se este
não plantar uma semente de fé, em dinheiro, como penhor de uma fé monetária.
Lembro
de uma história de Sören Kierkegaard (1813-1855), famoso filósofo dinamarquês,
sobre o Clown, um palhaço de circo. O fato, conta ele, é que estava ocorrendo
um incêndio nas cortinas do fundo de um circo itinerante. O diretor do circo enviou
então o palhaço que já estava pronto para entrar em cena, avisar às pessoas da
vila próxima que o fogo logo chegaria lá. Ele Suplicava que corressem para ajudar
a apagar as chamas e salvarem suas casa também pois o fogo logo chegaria na
vila. Como se tratava de um palhaço, todos imaginavam que era apenas um truque
para fazer rir as pessoas. E estas riam que riam. Quanto mais o palhaço conclamava
a todos, mais eles riam. O palhaço começa a chorar, e o povo ria mais ainda.
Todos acharam tudo isso muito engraçado, pois diziam que ele estava cumprindo
esplendidamente seu papel. O fato é que o fogo consumiu o circo e chegou na
vila acabando com tudo.
O
evangelho está convertido em outra coisa, a mensagem que chega aos ouvidos das
pessoas não tem a profundidade a riqueza e a sabedoria da Palavra, mas da
subversão, hipocrisia e ganância. De modo que o efeito é: ou se produz crentes
igualmente superficiais, hipócritas e gananciosos ou se provoca uma aversão
total a tudo aquilo que se diz evangélico.
E
como o palhaço de Kierkegaard, estamos pregando o evangelho, e ninguém dá a
mínima, não acreditam, nem os de dentro das igrejas achando que a ‘cobertura’
de seu pastor é suficiente para salvá-lo, nem os de fora que se negam a entrar
nesse circo de horrores.
Deus
nos ajude a pregar o Evangelho de Jesus! Não o evangelho monetário das unções
financeiras, não o evangelho do meio ambiente com folhas de arruda ou palmeiras
do Getsêmani, não o evangelho mineral do sal grosso ou terra santa trazida de
Israel, não o evangelho hídrico das águas engarrafadas do Jordão, não o
evangelho das vassouras ungidas, envelopes sagrados, e queda nos cultos, não o
evangelho da barganha política...mas o evangelho do poder de Deus que
transforma, salva, modifica, dá sentido à vida e a morte e uma eternidade de
paz.