Um homem, evangélico, presbítero de uma igreja, gente boa, casado, pai de três filhos, vive tranquilo em sua residência onde possui um pequeno comércio. Num certo dia, um assaltante lhe aborda e lhe tira a vida com dois tiros.
Bem, os evangélicos via de regra geralmente resumem o incidente acima num simples problema teológico. Nessa hora surgem perguntas do tipo: Por quê Deus permite? Pode um justo morrer assim? Onde está a proteção de Deus a alguém que lhe dedica a vida? – Ora, essas perguntas, não são difíceis de responder, com alguma lógica e fundamentação bíblica. Nada do que Salomão no livro de Eclesiástes já não tenha perguntado antes.
Mas o problema mesmo não é o problema teológico da questão, mas sim político. A verdade é que estamos entregues aos bandidos, que impunimente cometem seus desatinos, amparados por uma legislação leve e atrasada quase parceira dos crimes. As autoridades parecem ter perdido a luta para a marginalidade. De vez em quando vemos notícias do tipo: “nesse feriado morreu 20% menos pessoas que no mesmo período do ano passado”, como se nós fôssemos apenas estatística. Não se quer saber se quem morreu era um pai de família, um filho querido, uma mãe dedicada, o que importa é que mesmo continuando a morrer gente todo dia de forma violenta, se façam essas ridículas comparações, para passar a imagem de que os pseudo-esforços estão dando algum resultado.
Se faz campanhas e levanta-se fundos para proteger o peixe-boi, tartaruga marinha, mico-leão-dourado, e tantos outros animais ameaçados de extinção. Mas não parece haver o mesmo empenho para defender a vida humana. Não que não seja importante preservar os animais, claro que é. Mas cada ser humano é único, cada um é uma espécie em extinção, ninguém é igual a ninguém, Deus nos fez únicos no mundo. Mas nós, piores que as bestas da terra, lutamos para ter direito a portar uma arma de fogo, justificamos guerras mundo afora, defendemos abortos, e tantas coisas mais contra a vida.
Em vez de assistirmos passivamente tanta violência, nós como igreja, deveríamos nos unir, fazer passeatas, cobrar das autoridades políticas, dos deputados em especial, que elaboram as leis, mais severidade para coibir essas atrocidades, ‘com fome e sede de justiça’.
Mas voltando à questão teológica, muitos dirão que é o fim dos tempos, que é assim mesmo, que nada melhorará, e nesse conformismo ideológico-religioso, ninguém faz nada. Pelo amor de Deus: Ninguém pode fazer com que as profecias não se cumpram, mas não podemos entrar na onda de ‘quanto pior melhor’. As profecias apenas apontam para onde estamos caminhando se continuarmos nesse caminho do desamor, da crueldade, da violência e da omissão. Temos que ser como Abraão que pede por Sodoma e Gomorra mesmo que Deus já tendo decretado que a destruiria.
Do ponto de vista de Cristo, o que aconteceu ao irmão no caso do primeiro parágrafo desse texto, é o que pode acontecer a justos e injustos. João Batista, era amigo de Jesus, foi seu precussor, dava testemunho dEle, pregava nas esquinas, nos desertos, e contra as autoridades, mas foi morto decapitado por um capricho de uma dançarina. E Jesus não fez nada pra salvar o amigo, e olha que foi sobre ele que Jesus tinha dito que ‘dos nascidos de mulher não havia ninguém maior que João Batista’.
Daí a gente aprende que os amigos de Jesus podem morrer das mortes mais tolas, decapitados como João e Paulo, crucificados de cabeça pra baixo como Pedro, Apedrejados como Estêvão. Mas o que realmente imorta é que eles estão guardados com Deus. E pra Deus ninguém morre, pois todos estão vivos, por isso ele é chamado de o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó.
A morte não mata mais. Porque Jesus a venceu na Cruz. De modo que para os olhos dos que nisso crêem, ela serve apenas como ‘servo’ de Deus para introduzir o santo nas mansões celestiais. O que fica para os que ficam é dor, perda, angústia, e desespero, mas para Deus nada mudou, apenas mais um de seus filhos chegou ao lar eterno.
Não é a vontade de Deus que alguém morra de forma violenta, o homem é que se acha do direito matar. Não é a vontade de Deus que as crianças morram de fome em Ruanda, e se aliementem bem na América. Ou Deus gosta mais das crianças de Bush? Mas os homens, escravizam uns aos outros, acumulam para si riquezas e fazem com que seus semelhantes sofram.
Não, essa não é a vontade de Deus, não é vontade diretiva ou permissiva, como dividiria didaticamente algum teólogo de plantão, mas é o livre arbítrio de ser, que o homem tem e o usa sempre para o mal, pois ‘o homem é mau desde a sua meninice’ conforme a Palavra. Mas Deus trará todos à juízo, disso ninguém duvide.
Que Deus nos abençoe e ajude.
(O texto acima foi escrito após a morte de um irmão em Cristo, conforme foi dito no primeiro parágrafo do texto. Que Deus console a família enlutada, do irmão Nilson Canuto. Ele agora descansa em Paz. Que Deus tranforme toda dor em saudade e consolação na certeza da ressurreição)
Moisés Almeida – 18-05-06 dois dias após o incidente.
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